Irmandade Metálica
Gostaria de reagir a esta mensagem? Crie uma conta em poucos cliques ou inicie sessão para continuar.

DIFUSORES #7 (Dico - Loures)

+3
Santyago
Jafar71
Admin
7 participantes

Ir para baixo

DIFUSORES #7 (Dico - Loures) - Página 2 Empty DIFUSORES #7 (Dico - Loures)

Mensagem por Admin 31/5/2014, 19:23

DIFUSORES #7 (Dico - Loures) - Página 2 Difusores_logo

DICO

DIFUSORES #7 (Dico - Loures) - Página 2 Dico_difusores_7_im

BI

Nome: Dico
Data de nascimento: 01.08.1970
Reside em: Loures
Profissão: Jornalista/Profissional Independente
No aço desde: 1982
Bandas e/ou projectos, editoras, distribuidoras e/ou outros presentes: Colaboração na Versus Magazine. Novos projetos em preparação mas ainda no segredo dos deuses...
Bandas e/ou projectos, editoras, distribuidoras e/ou outros passados: Bandas – Paranóia, Dinosaur, Sacred Sin, Powersource, Timeless, projeto a solo. Jornalismo: Breve História do Metal Português (livro), Metal Incandescente, A a Z do Metal Português, Musicalis, Reflexões Musicais, Memórias Musicais (blogues) e Music Interview (e-newsletter). Colaboração nas revistas Riff e Blast! e nos sites 123Som.com e MetalOpenMind.


IM: Antes de mais, obrigado por aceitares responder a esta entrevista. Começo com uma pergunta de algibeira: Como entraste para o mundo do metal?
R: O primeiro tema de música pesada que tenho memória de ouvir foi «Bohemian Rhapsody», dos Queen. Estávamos em 1977. No entanto, seria apenas em 1982, quando o meu irmão levou para casa o então recém-editado «The Number of the Beast», dos Iron Maiden, que se deu a minha grande mudança em termos musicais. Desde esse momento, o Metal, na suas diversas vertentes, tornou-se para mim uma forma de vida. Tenho sempre marcado presença no Underground, quer através do meu percurso em bandas (no final dos anos 80 e princípio dos 90), quer através do jornalismo e da divulgação musicais.

IM: Como descreves a tua situação local ou zona onde te inseres no que diz respeito a bandas e projectos de peso?
R: Para mim só faz sentido ver o cenário Underground nacional como um todo uno e indivisível. O todo é maior do que a simples soma das suas partes. Não é possível ter uma visão global (e muito menos sendo ela correta e representativa) meramente por meio das partes que o integram individualmente. É óbvio que as cenas locais e regionais apresentam uma influência determinante no Underground metálico a nível do país, havendo mesmo áreas geográficas de enorme influência, mas é o todo que vale por si. Nesta medida, para ser sincero, não conheço particularmente o atual cenário Underground de Loures (até porque não resido há muitos anos nesta zona), por oposição ao dos anos 80 e 90, durante os quais surgiram inúmeras bandas, algumas delas marcantes, como Lakrau, Massive Roar, 605 Forte, Dinosaur ou Merciless Death, entre outras. Já na viragem do século apareceram nomes como Arte Sacra ou Blackfeather, por exemplo. De lembrar que foi no concelho de Loures que se realizou, a 15 de dezembro de 1984, o primeiro festival de Heavy Metal alguma vez organizado em Portugal, o I (e único) Festival de Heavy Metal de Stº António dos Cavaleiros. A importância e a carga simbólica deste evento para o Underground nacional falam por si. Foi também aqui (concretamente em Moscavide) que, na segunda metade dos anos 60,  se formou a banda que, no livro Breve História do Metal Português, identifiquei como sendo a primeira de orientação mais pesada a surgir em Portugal – os The Playboys, que tocavam um Rock Psicadélico pesado na linha dos grandes nomes estrangeiros da época. De resto, atualmente existem numerosos grupos no concelho, alguns usufruindo de alguma exposição mediática, mas sinceramente conheço muito melhor o cenário metaleiro da Margem Sul, por exemplo, do que o de Loures. No que se refere a estúdios e salas de ensaio temos em Loures os míticos JAP, por exemplo, embora a oferta seja restrita. Os espetáculos de bandas nacionais apresentam alguma regularidade mas as salas escasseiam. Por outro lado, no concelho operam ainda editoras/distros como a Blood & Iron Records ou, se não estou em erro, a Guardians of Metal.

IM: Quais as principais dificuldades que essas bandas/projectos mais encontram e que ideias sugeres para que ultrapassem essas mesmas dificuldades?
R: Em geral, as dificuldades não diferem substancialmente daquelas que sentem a generalidade dos grupos oriundos das restantes zonas do país: verbas limitadas para aquisição de equipamento, dificuldade na conjugação de horários entre os elementos das bandas para ensaios, gravações e concertos; importantes obstáculos na distribuição física dos seus registos e na assinatura de contratos de edição e/ou licenciamento; dificuldade em encontrar salas para tocar regularmente, entre outros. Julgo que existe um fator comum à maioria dos problemas que enunciei: a escassez de verbas, transversal aos diversos atores envolvidos, e que se traduz num conjunto de situações interdependentes, numa lógica de causa/efeito. Se não tens capital para investir na abertura de uma sala de espetáculos as bandas dão poucos concertos. Logo, gozam de menor exposição mediática e conquistam menos público, o que resulta numa verba limitada para fins promocionais, gravações, aquisição de equipamento, encomenda de merchandise, etc. É uma bola de neve. Uma maior capacidade financeira traduzir-se-ia certamente numa evolução significativa, até porque os grupos nacionais caracterizam-se essencialmente por uma enorme vontade, talento e capacidade de realização. Fazem as coisas acontecer (nomeadamente organizando festivais), desde que possuam as condições mínimas para tal. As atuais ferramentas de promoção e divulgação, além de estarem ao alcance de todos, são, na grande maioria, de utilização gratuita, rápida e intuitiva, pelo que desempenham um papel determinante na construção da carreira de qualquer grupo. O maior problema, julgo, será mesmo a diminuta capacidade económica.

IM: Que orgãos de divulgação, associações, espaços para tocar ou outros existem na tua zona "metálica" e, na tua opinião, qual o seu impacto/contributo para o meio?
R: Como disse, não conheço particularmente a cena de Loures, em especial em termos de órgãos underground. Quanto a salas, o Excalibar, localizado na Póvoa de Stª Iria, tem tido um importante papel na divulgação de bandas nacionais. Julgo que ainda se encontra a laborar, mas não estou certo. O Heritage Live Act Café também veio enriquecer um pouco o cenário para atuações ao vivo. Por vezes, algumas associações recreativas também acolhem espetáculos. O impacto destes espaços não é negligenciável, muito pelo contrário, embora pudesse ser exponenciado caso houvesse mais agentes underground.

IM: Que diferenças poderias estabelecer entre outros tempos (80's e 90's) e os dias de hoje no que diz respeito à qualidade das bandas, oportunidades para tocar, divulgação do seu som, etc?
R: Atualmente as bandas possuem um domínio técnico incomparavelmente superior às das épocas referidas. Também ao nível da composição, da gravação, produção, mistura e mesmo dos espetáculos ao vivo a qualidade aumentou de uma forma que não poderíamos supor há 20 anos. Hoje, temos inúmeros grupos de qualidade igual ou superior à de grandes nomes estrangeiros. As oportunidades para tocar são agora em maior número do que nos anos 80 e 90, mas continua a não haver propriamente um circuito, embora grupos como os Ramp, Switchtense ou Sacred Sin, entre outros, já hajam provado ser possível realizar, hoje, digressões nacionais (nos anos 90 Procyon ou Afterdeath já o haviam feito, embora com menos condições). Nem sempre é fácil encontrar boas salas, e muitas bandas pagam literalmente para tocar, o que configura um cenário muito pior do que nas décadas anteriores.

IM: Em termos de divulgação do metal por cá, aos dias de hoje, o que pensas da actual situação, desde os meios televisivos à internet passando por publicações em papel, fóruns, etc? O metal é bem divulgado em Portugal? Se não, o que precisamos de melhorar?
R: Uma coisa é certa: nunca houve tantas e tão eficazes plataformas de divulgação como hoje. A democratização e massificação tecnológicas, especialmente no que respeita à internet, permitiu o surgimento de uma panóplia de meios, como as redes sociais, os blogues, as mailing-lists, as e-newsletters, os sites, os podcasts, os fóruns, absolutamente determinantes na divulgação do Underground em geral, o que se traduziu num conhecimento muito maior do Underground nacional. Pena que numerosos títulos alojados nestes meios hajam desaparecido nos últimos anos. Por outro lado, na TV assistimos a um tímido aumento da divulgação, nomeadamente em talkshows de canais de cabo, com entrevistas a bandas e atuações ao vivo. A exposição mediática dos Moonspell e em particular de Fernando Ribeiro também conferiu ao Metal um facelift em termos de imagem na opinião pública nacional. Hoje até já vemos passar em rodapé nos telejornais notícias sobre atuações de bandas de Metal no nosso país. Quem imaginaria tal coisa há dois anos? Obviamente que ainda há muito a melhorar, mas hoje o cenário é indiscutivelmente melhor. Quanto a publicações, continuo a dizer que em Portugal existe mercado para uma segunda revista especializada. Em geral, o que precisamos de melhorar é, essencialmente, a diversidade de oferta, quer seja de bandas transversais aos diversos subgéneros, quer em termos de oferta de conteúdos informativos. Requerem-se abordagens e conteúdos inovadores, que vão para além do óbvio e façam a diferença. Faltam ainda meios para que o Metal português se internacionalize de facto, com as nossas bandas a circular em digressões pelo mundo fora. Editoras e promotores estrangeiros, por favor olhem para Portugal.

IM: Na tua perspectiva, que conselho darias a novas bandas ou mesmo a bandas que já cá estão no aspecto de como devem encarar o meio musical, fazer a sua divulgação, aspirações, público, comportamento perante os media, etc? No fundo, quais as linhas mestras com que se devem orientar?
R: Cada vez mais, e dada a atual conjuntura, o ideal é as bandas tomarem em mãos as suas próprias carreiras. Se, numa banda, a distribuição de tarefas for adequada segundo as competências e conhecimentos de cada membro tudo se simplifica. Basta cada pessoa saber o que tem de fazer em prol do coletivo. Fundamental é também desenvolver novos conhecimentos, nomeadamente através da frequência de cursos de formação, wokshops, etc. Por outro lado, as ferramentas e plataformas tecnológicas exercem hoje um papel absolutamente vital para a divulgação do trabalho de qualquer agente Underground, pelo que a presença nas redes sociais e plataformas análogas se revela obrigatória, em paralelo com os meios tradicionais. Fazer o melhor possível em cada momento, trabalhar arduamente, tocar muito ao vivo, fazer um trabalho contínuo de promoção/divulgação (tendo sempre em conta que os conteúdos têm de ser relevantes e de qualidade), gravar com frequência, disponibilizar os registos nos diversos formatos e manter uma relação próxima com os fãs e com os media são os segredos do sucesso de qualquer banda.

IM: Podes contar uma história (sem divulgar nomes) do melhor que passaste relacionado com o meio metálico e uma outra (também sem divulgar nomes) onde se mostrou o pior e o que não deve acontecer?
R: Há inúmeras histórias sobre o melhor que vivi no meio metálico. Muitas delas passam pelo reconhecimento do meu trabalho no Underground ao longo dos anos, outras dizem respeito à total dedicação de terceiros em prol do Underground nacional. Há incontáveis e inspiradoras histórias de verdadeiros sacrifícios pessoais feitos em prol do Underground. Conheço muitos bem de perto. Quanto ao pior, verificaram-se algumas situações tristes em que fui envolvido mas que já fazem parte do passado. Não vale a pena falar delas. Mas hoje, no geral, o ambiente que envolve a música pesada lusa está substancialmente mais degradado do que há uma década, revelando a podridão que envolve o meio. O espírito de irmandade tem-se perdido. Por vezes, imperam a inveja, o egocentrismo e o insulto gratuito. É estranho verificar que, em muitos casos, estes comportamentos são manifestados entre a velha guarda - em teoria mais unida do que as novas gerações.  Por vezes, algumas pessoas com um passado na construção do Underground nacional gostariam que algo tivesse sido diferente, pelo que tentam pintar um outro quadro, mas tal não faz sentido. Assim, prefiro recordar meramente os aspetos positivos.

IM: Que acontecimento destacarias (mais antigo ou recente) que mudou algo no meio metálico e que mais como esse deveriam acontecer para fortalecer ainda mais o nosso meio?
R: Os exemplos são inúmeros, mas opto por referir a realização do I Festival de Heavy Metal de Santo António dos cavaleiros (1984), a publicação da rubrica “Blitz Metálico” no jornal Blitz (mais tarde substituída pelo “Arame Farpado”), o surgimento das zines e do tape-trading, as emissões do Rock em Stock e do Lança-chamas, o surgimento das rádios pirata (que, além destes programas, impulsionou imenso a divulgação do Metal no éter), a criação das revistas Rock Power (1991), Riff (1998) e Loud! (1999), o aparecimento de festivais como o Hardmetal Fest ou o SWR, o lançamento de Wolfheart com a consequente internacionalização dos Moonspell, o surgimento das plataformas tecnológicas baseadas na Internet e as eliminatórias do Wacken Open Air Metal Battle Portugal. Por fim, não sei se o meu livro Breve História do Metal Português mudou algo no meio metálico luso, mas gosto de acreditar que pelo menos o abanou um pouco, abrindo perspetivas e indicando caminhos (apesar de tudo óbvios) por desbravar. Foi algo original, nunca antes feito por cá.

IM: O que achas que poderia ser feito que ainda não foi de forma a fortalecer o crescimento e expansão da cena metálica nacional?
R: Falta mais união entre os vários agentes, de forma a criar mais e melhores projetos, de preferência com abordagens mais ambiciosas e originais. O nosso meio carece do surgimento de mais estruturas profissionais que possibilitem, por exemplo, a edição/licenciamento de mais discos nacionais no estrangeiro, com a consequente incursão de mais bandas lusas em digressões além-fronteiras. É fundamental criar “pacotes” atrativos para o público, editoras e promotoras de outros países, que anseiam conhecer as grandes bandas que surgem em terras de Viriato.

IM: Obrigado pelo teu testemunho e paciência e agradeço que deixes uma última mensagem para o pessoal que vai ler as tuas palavras!
R: Pensem no que podem fazer, individual e coletivamente, para divulgar o Underground nacional. E façam-no! Façam-no com empenho e paixão. Criem novos projetos, façam a diferença, esforcem-se por ser originais. O aço forjado em Portugal precisa de vocês.

Livro Breve História do Metal Português:

Site oficial
Página Facebook oficial
Página Facebook do autor
Página oficial no Twitter
Admin
Admin

Mensagens : 126
Data de inscrição : 04/08/2009

Ir para o topo Ir para baixo

Ir para o topo

- Tópicos semelhantes

 
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos